
São Luís: Alma e História
O livro apresenta São Luís de forma encandora com os textos do escritor Sebatião Moreira Duarte. Onde ele conta a história de cada ponto turíistico da cidade. Além, de belíssimas imagens nas lentes do fotografo Albani Ramos. 2007.
FOTOGRAFIA E MEMÓRIA
José Chagas
Se é verdade que a fotografia diz muito mais que as palavras, temos então aqui São Luís revelada e, por assim dizer, narrada aos nossos olhos, graças ao silêncio expressivo destas fotos captadas pelas lentes e, sobretudo, pelo iluminado talento de Albani Ramos.
A panorâmica configuração da cidade apanhada, primeiro, em todo o seu contexto estético e, particularmente, na suntuosidade de cada monumento histórico, como a destacar cuidadosamente as principais relíquias de nosso acervo patrimonial, comprova aqui o objetivo desse excelente fotógrafo, de não só nos dar uma exata visão material da urbe em seu esplendor, como a de nos fazer sentir toda a poesia que irrompe fulgurantemente de sua complexão arquitetônica.
As fotos de Albani falam por entre imagens e luzes e cores. Tanto que não quero interferir com minhas palavras, mesmo porque é de todo desnecessário dizer que São Luís não é uma cidade como outra qualquer. Olhem estas fotos e constatem e, sobretudo, as escutem. Cumpre atentar para o fato de que elas não só falam por si mesmas, como não vêm apenas para um simples efeito de deslumbramento ou encanto. Elas também gritam contra a nossa cotidiana indiferença a essa riqueza arquitetônica, única em sua grandiosidade e verdadeira em sua permanência como um marco a assinalar feitos de que pode se orgulhar o homem na história da civilização.
É por isto que digo e repito que estas fotos não devem ser apenas vistas, mas também sentidas.
Em relação a São Luís, podemos observar que há em nosso comportamento um hiato, um vazio mesmo, entre o nosso modo de ver a cidade e de senti-la. Aliás, se já não a sentimos, quase já não a vemos. Uma grande maioria até já deu as costas para o centro histórico.
Mas Albani nos aparece como a dizer que é preciso que entre pelos olhos não só a beleza física de São Luís, mas também, pelos olhos – se é que são eles as janelas da alma – penetre o acervo com o seu significado cultural enriquecedor de nossa memória coletiva, assimile-se enfim o patrimônio espiritual que está além das fotos mas a que elas não deixam de aludir, pois são em si mesmas também reflexos do espírito humano.
Entendo que este livro não tem o propósito puramente documental. Ele é já, sem nenhuma dúvida, um belo monumento em homenagem à monumental cidade dos azulejos, tão graciosa, tão atraente, tão fascinante, mas não muito bem amada, nem sequer muito bem lembrada.
E ante a nossa falta de memória e os constantes desmoronamentos, na urbe, a que, com indiferença, assistimos, há de se imaginar que, no futuro, o patrimônio material poderá ser salvo, quando nada, pela fotografia, mas o patrimônio espiritual quem o salvará? Quem fotografará a alma de um povo?
Creio que este livro é um ponto de partida para que meditemos um pouco, nesse sentido.
Aliás, para isso, podemos contar com os textos elucidativos, aqui primorosamente elaborados por Sebastião Moreira Duarte, que, com a perícia e a argúcia do escritor que ele é, estabeleceu o confronto de palavras e imagens, dando-nos o exemplo de como é possível captar a alma da cidade, assim como olhar e perceber, histórica e culturalmente, ponto por ponto, os aspectos mais significativos de nossa realidade urbana.
Cabe-nos, pois, ouvir, ao mesmo tempo, a silenciosa voz das fotos e as esclarecedoras palavras dos fatos.

